sábado, 11 de dezembro de 2010

Acordo modesto, mas “além das expectativas” marca a cimeira climática de Cancún

Depois do desaire da Cimeira de Copenhaga no ano passado, eram muito baixas as expectativas para a reunião de Cancún, que acabou na madrugada de hoje depois de quase duas semanas de negociações. No entanto, o encontro acabou com um modesto, mas inesperado, acordo.



Activistas  perguntam se há esperança em Cancún.


A oposição firme ao prolongamento do Protocolo de Quioto enquanto este não for melhorado no sentido de abranger um maior número de países (nomeadamente os EUA e a China), por parte do Japão, do Canadá e Rússia também contribuiu para um arrefecimento das expectativas logo nos primeiros dias da cimeira. A questão de Quioto foi símbolo da divisão entre países desenvolvidos e não desenvolvidos ao longo de todo o encontro, porque os últimos consideravam o prolongamento de Quioto essencial uma vez que é o único tratado vinculativo a definir metas de reduções para os países industrializados. No final do encontro foi definido a continuação de Quioto, mas com novas metas de redução de emissões a, possivelmente, serem decididas nas próximas conferências (na África do Sul, no próximo ano, ou no Brasil em 2012).


Em relação à redução de emissões, os países reunidos no México reforçaram a necessidade de manter a subida da temperatura global abaixo dos 2⁰C, um objectivo que implicará cortes nas emissões de gases com efeito de estufa entre os 25 e os 40 por cento até 2020, relativamente a níveis de 1990. 


O Acordo de Cancún prevê a criação de um fundo mundial para permitir aos países menos desenvolvidos adaptarem-se às alterações climáticas. No entanto, ainda há muito a esclarecer em relação a este fundo, que deverá reunir 76 mil milhões de euros em 2020. Com o objectivo de esclarecer todos os detalhes da forma como o fundo vai ser financiado e da aplicação do dinheiro, foi criada uma comissão de 40 países em que os estados em desenvolvimento estão em maioria (25, em relação aos 15 industrializados).


Nas últimas horas do encontro, viveram-se momentos de tensão devido à recusa da Bolívia em comprometer-se com um acordo “com falta de ambição”. “É fácil para pessoas numa sala com ar – condicionado continuarem com as políticas de destruição da Terra. Nós precisamos, em vez disso, de nos colocar no lugar das famílias da Bolívia e no resto do mundo que não têm água nem comida e sofrem a miséria e a fome. As pessoas aqui em Cancún não fazem ideia do que é ser uma vítima das alterações climáticas”, afirmou o presidente boliviano Evo Morales. Aquele país da América Latina foi o único a recusar o acordo e anunciou que vai utilizar “todas as instâncias internacionais” para o revogar.


De um modo geral, o acordo foi recebido com optimismo, uma vez que colocou “as negociações do clima novamente nos eixos” depois do fracasso da Cimeira da Copenhaga, afirma a Quercus em comunicado. A organização ambientalista portuguesa reforça ainda a necessidade da União Europeia tomar a dianteira na redução de emissões, aumentando a meta unilateral de redução de emissões até 2020 de 20 para 30 por cento, em relação a níveis de 1990. Condena “um conjunto de países que dificultaram o consenso e avanços bem mais profundos, como os casos do Japão, Canadá, Rússia e Estados Unidos”, em contraste com a Índia e a China que surpreenderam ao aceitar “traçar metas de emissões para o futuro, mesmo que voluntárias”. Em suma, considera positivo o “ambiente de maior transparência, confiança e multilateralismo”.


A ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, que presidiu à comitiva portuguesa em Cancún, considerou que os resultados da cimeira foram “além das expectativas” e anunciou ao jornal Público a criação de um novo Programa Nacional para as Alterações Climáticas.


A Greenpeace valoriza o facto de “pela primeira vez em anos, os governos terem posto de parte algumas grandes diferenças e comprometerem-se a encontrar um acordo climático”. Mas relembram que a conferência de Cancún pode ter salvo “o processo multilateral depois do falhanço de Capenhaga”, mas ”ainda não nos salvou das alterações climáticas”.















segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A solução para o aquecimento global é o mercado de carbono?

Quando os líderes mundiais debatem a melhor forma de solucionar o problema das alterações climáticas há sempre uma medida que é discutida: a criação de mercados de carbono.



Estes mercados, em alguns aspectos semelhantes a uma bolsa de valores, já existem na União Europeia (European Climate Exchange) desde Fevereiro de 2005. Outros países já puseram, da mesma forma, a medida em prática.


Todos eles baseiam-se no princípio do comércio de emissões: os países e indústrias têm um limite de emissões de gases de estufa disponível. Caso ultrapassem o estabelecido são obrigados a ir ao mercado comprar mais emissões. Caso as emissões fiquem aquém do limite inicial, o excedente pode ser vendido.


Para muitos, o sistema europeu tem-se mostrado um sucesso por ter levado a um investimento em energias limpas, permitido um melhor sistema de monitorização de emissões, etc.


No entanto, são muitas as vozes discordantes. Entre elas destaca-se a da ambientalista Annie Leonard pela clareza e alcance da mensagem.


Para que as suas ideias fossem ouvidas, Annie Leonard decidiu criar um vídeo de 20 minutos sobre a sociedade do consumo e divulga-lo na internet. Nascia, desta forma, o projecto The Story of Suff (A história das coisas, numa tradução literal). “A história de um mundo obcecado por coisas, de um sistema em crise”, palavras com que começa o filme, tornou-se um sucesso global com, até ao momento, mais de 12 milhões de visualizações. A influente revista Time considerou a autora um dos “Heróis do ambiente”. O criador da lista escreveu que “Os meus amigos frequentemente não acreditam quando eu digo que posso passar uma tarde a ouvir histórias sobre lixo e ficar totalmente fascinado. É porque ainda não conhecem a Annie Leonard.”


Para além do vídeo inicial, o projecto cresceu para outros pequenos filmes. Entre eles The Story of Cap & Trade (A história do Cap & Trade expressão inglesa sem tradução para português em que “Cap” se refere a estabelecer um limite de emissões e “Trade” à venda do que sobra do limite de emissões).


No filme, Annie Leonard afirma que a solução do mercado de emissões não passa de um “enorme problema” porque vai criar “uma bolha de três biliões de dólares”. Wall Street tem-se vindo a tornar especialista em criar enormes bolhas que mais tarde ou mais cedo rebentam mas esta tem, defende a ambientalista, uma particularidade: “quando esta bolha estourar não vai deitar abaixo apenas as nossas carteiras de acções, pode deitar abaixo tudo!”.


Para sustentar a sua tese, Leonard apresenta três argumentos, os “três demónios nos detalhes das propostas de comércio de emissões”:

  •   Licenças Gratuitas: A maioria das licenças de emissões é dada aos poluidores de forma gratuita. “É como se lhes estivéssemos a agradecer por terem criado este problema”, afirma Leonard. Em vez de simplesmente oferecermos as licenças aos poluidores elas seriam mais úteis se fossem vendidas e o dinheiro resultante investido em energias limpas, dar aos cidadãos um dividendo enquanto, no período de transição para uma economia de energias limpas, os preços dos combustíveis aumentassem e, destaca o vídeo, partilhar o dinheiro obtido com os países mais afectados pelas alterações climáticas e que, na maior parte dos casos, desempenham um papel pouco significativo a nível de emissões (chama-se a isso “pagar a nossa dívida ecológica”).
  •  “Créditos de Compensação de Carbono”: Quando uma empresa reduz as suas emissões recebe créditos que pode vender a outras empresas mais poluentes. “Em teoria uma actividade compensa a outra. O perigo destas compensações é garantir que o carbono está realmente a ser removido. Isto cria um muito perigoso incentivo para criar falsas compensações – fazer batota. Muitas vezes fazer batota não é o fim do mundo, mas neste caso é.”, defende Leonard. Exemplifica ainda com o caso da empresa indonésia Sinar Mars (que nos últimos anos tem estado sempre na mira dos ambientalistas) que destruiu florestas primitivas e plantou, no mesmo local, palmeiras e conseguiu, dessa forma, créditos de compensação.
  •  “O comércio de emissões é uma distracção perigosa”: Uma solução real para combater o aquecimento global passa por criar uma economia que não esteja dependente de combustíveis fósseis. Para Annie Leonard, este sistema cria uma “falsa sensação de progresso” porque “faz os cidadãos pensarem que tudo vai ficar bem se conduzirem um pouco mesmo, mudarem as lâmpadas e deixarem os especuladores fazerem o resto”.
Conclui Leonard, os sistemas de Cap & Trade são “ineficientes, injustos e perigosos”. “Eu sei que todos gostaríamos de não sacrificar nada, salvar o planeta e enriquecer pelo caminho. Mas isso não é possível! Precisamos de algo novo. Não vai ser fácil, mas desta vez sonhamos mais alto. Está na altura de desenhar uma solução climática que funcione realmente”.

The Story of Cap & Trade:

http://youtu.be/IPS5jTwo1Tk






 


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Primeiro semestre de 2010 o mais quente desde que há registos

Segundo dados divulgados pelo Federal Climate Service (EUA) o período de Janeiro a Junho de 2010 foi o mais quente de sempre, a nível global. Aquele organismo monitoriza a temperatura a temperatura desde o século XIX.

No período em estudo, a temperatura global foi em média de 14.17° célsius, um aumento de 0.7° C em relação à média de todo o século XX.

2010 tem, assim, uma grande probabilidade de se tornar o mais quente que há memória, suplantando o recorde que pertence a 2005.

No árctico os efeitos são mais que visíveis, conta o jornal Toronto Star. Em algumas regiões do norte do Canadá as temperaturas têm sido superiores ao normal em mais de 4°C.

A estas informações vêm-se juntar as da seguradora alemã Munich Re que considera 2010 como um “ano excepcional” em termos de desastres meteorológicos. Para Peter Hoepe, investigador da empresa, o aquecimento global contribuiu para estes fenómenos e “está a piorar”.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Poluentes causadores de Efeito de Estufa

  •          O dióxido de carbono é o principal gás com efeito de estufa. Desde a Revolução Industrial que as emissões têm aumentado, para níveis que contribuem para o desequilíbrio climático. As emissões deste gás provêm, na sua maioria, da queima de carvão (para produzir electricidade em centrais termoeléctricas e na Indústria) e de derivados de petróleo (nos transportes, na indústria, …). 80% das emissões globais de dióxido de carbono são feitas nas áreas urbanas.
                   
  •          O metano é entre vinte a setenta e cinco vezes (dependendo do tempo que se encontra na atmosfera) mais poderoso do que o dióxido de carbono, a reter a radiação solar. O metano provém das actividades agrícolas (com destaque para os resíduos do gado e produção de arroz), decomposição de resíduos em aterros, mineração de carvão e da queima de combustíveis fósseis. No entanto, o facto de o metano já ter valor inerente tem potencializado o seu aproveitamento, nomeadamente, para a utilização do gás dos aterros para a produção de energia.

  •          O Negro de Carbono, ou fuligem, não é considerado um gás (são pequenas partículas de carbono). A sua origem é a queima de biomassa, de combustíveis fósseis (normalmente por veículos pouco eficientes, em países subdesenvolvidos sem legislação a este respeito).Um dos problemas do negro de carbono é o facto de, quando cai sobre a neve ou gelo, (o Árctico ou os Himalaias são os casos mais preocupantes) diminuir a quantidade de energia que essas superfícies reflectem (a Albedo, quantidade de energia reflectida, é maior em superfícies lisas e claras), absorvendo mais radiação solar e derretendo mais facilmente.

  •          Holocarbonos, incluem os “famoso” CFC (clorofluorocarbonetos). Como estes gases são responsáveis pela depleção da camada de Ozono, as suas emissões têm diminuído, ao obrigo do definido pelo Protocolo de Montreal. A forma como a humanidade lidou com o problema do ozono, tomando medidas sérias para o enfrentar, deve ser tomado como exemplo.Os restantes holocarbonos que não afectam o ozono, e que por isso não estão regulamentados pelo protocolo de Montreal, estão pelo de Quioto.

  •          Monóxido de Azoto e Compostos Orgânicos Voláteis. Apesar destes dois poluentes não serem directos causadores do aquecimento global criam azoto e, por isso, contribuem indirectamente mas de forma significativa, para a retenção de calor na atmosfera.Estes poluentes provêm dos automóveis, queima de biomassa e processos industriais.

  •          Óxido de ozoto tem origem, em grande medida, da utilização de fertilizantes azotados na agricultura. Estes fertilizantes aumentam as emissões resultantes da decomposição bacteriana no solo. Para além disso, provocam o aparecimento de zonas mortas em ribeiras e rios para onde escorrem os fertilizantes, processo conhecido por eutrofização.  Para agravar a situação, estes adubos exigem enormes quantidades de combustíveis fósseis na sua produção.

  •          O vapor de água retém calor. No entanto, esta retenção é maior quanto maior for a temperatura. Assim, o aumento de temperatura resultante do aquecimento global, aumentará a quantidade de radiação que este gás retém, provocando um agravamento da situação. 
·          

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sociedade americana mais insegura sobre o aquecimento global

                                                                                                                                                            
A revista norte – americana GOOD publicou um interessante estudo estatístico sobre a forma como a sociedade do país tem visto a questão do aquecimento global ao longo dos anos.
Os resultados são pouco animadores. Entre 2008 e 2010 registou-se um aumento de quase 15% na reposta  “inseguro” relativamente à questão “As alterações climáticas estão a ocorrer?”. “Não estão a ocorrer” também aumentou, mas de forma menos significativa.(Figura 1)

Figura 1: "As alterações climáticas estão a ocorrer?" era uma das perguntas do inquérito.


Para estes resultados muito têm contribuído campanhas de desinformação como este anúncio publicitário exibido no estado da Califórnia, pago por duas companhias petrolíferas. No vídeo a protagonista defende que “quer fazer a sua parte no aquecimento global” mas as soluções devem esperar até “as pessoas estarem novamente a trabalhar”. Ora, este argumento é falacioso: o investimento na mitigação do aquecimento global cria emprego (um estudo da Universidade de Massachusetts afirma que o investimento em energias limpas pode criar milhões de novos postos de trabalho).
No lado das boas notícias, ainda relativamente ao estudo divulgado pela GOOD, metade dos inquiridos concorda com a Universidade de Massachusetts: as medidas de redução do aquecimento global irão criar mais empregos. Já 86% querem que o Governo limite as emissões de poluentes pelas empresas.
Todos os dados do estudo podem ser consultados aqui.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O efeito de estufa era benéfico até termos interferido na delicada relação entre a Terra e o Sol

O fenómeno do efeito de estufa consiste na retenção de alguma da radiação solar que entra na Terra. Quando a Terra emite para a atmosfera praticamente a mesma quantidade de radiação solar que recebe, isto não representa nenhum problema, muito pelo contrário (Figura 1). Desta forma mantém-se o equilíbrio térmico da Terra, essencial para a vida no planeta (se o efeito de estufa, em condições normais, não existisse a temperatura média da Terra seria cerca de 33º C mais baixa).


Figura 1 – O efeito de estufa em condições normais

No entanto, a emissão de grandes quantidades de Gases de Estufa (Dióxido de Carbono, Metano, entre outros) tem vindo a aumentar a quantidade de radiação solar que fica retida na atmosfera (Figura 2), aumentando a temperatura da Terra. Este efeito de estufa, que não é normal porque resulta da acção humana, deu origem a uma crise climática que necessitamos de enfrentar.


Figura 2 – Efeito de estufa maior devido à acção humana

(Imagens retiradas do livro Uma Verdade Inconveniente de Al Gore)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010









Primeiro Post do blog

Aquecimento global é o aumento da temperatura média dos oceano e do ar perto da superfície da Terra ocorrido desde meados do século XX e que deverá continuar no século XXI. Segundo o Quarto Relatório de Avaliação do Painel  Intergovernamental  sobre Mudanças  Climáticas (2007), a temperatura na superfície terrestre aumentou 0,74 ± 0,18 °c durante o século XX.
A maior parte do aumento de temperatura observado desde meados do século XX foi causada por concentrações crescentes de gases do efeito estufa, como resultado de atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis e a desflorestação. O escurecimento global, uma consequência do aumento das concentrações de aerossóis  atmosféricos que bloqueiam parte da radiação solar antes que esta atinja a superfície da Terra, mascarou parcialmente os efeitos do aquecimento induzido pelos gases de efeito de estufa.