sábado, 14 de maio de 2011

Bangladesh já vive as consequências das alterações climáticas

A revista National Geographic (NGM) tem vindo a publicar um conjunto de reportagens sobre demografia, relacionadas com o facto de, segundo as estimativas, no final de 2011 serem 7 mil milhões os seres humanos a partilharem o planeta Terra. Na edição de Maio, a reportagem Temporal à Vista, sobre a população do Bangladesh e sua adptação à subida do nível médio da água do mar, é de especial relevo para o assunto que temos vindo a tratar em Área de Projecto.

O Bangladesh é um dos países mais populosos do mundo, com uma população de 164 milhões de habitantes (que, não obstante as políticas antinatalistas aplaudidas internacionalmente, crescerá para 220 milhões em 2050), que vivem “numa área pouco maior do que a de Portugal Continental”.

Este país é uma imensa planície aluvial, para onde confluem os rios Ganges, Jamura e Meghna. Esta situação faz com que as cheias sejam situação constante na vida dos bangladeshianos.

Don Belt, autor da reportagem da National Geographic, considera que no Bangladesh “o futuro acontece agora”. Isto porque, tal como acontece neste país asiático, a população mundial crescerá para 9 mil milhões de habitantes em 2050. A isto se soma a subida do nível médio das águas do mar, uma das consequências previstas do aquecimento gobal. Se nada for feito, a inundação das áreas costeiras poderá implicar uma migração de “entre 10 a 30 milhões de residentes junto à costa meridional”, que se juntarão aos restantes milhões de refugiados do clima, criando uma situação imprevisível.

Mas os Bangladeshianos já sentem muitas das outros consequências das alterações climáticas. Os habitantes deste país, “assistiram à salinização dos seus aquíferos, à força destrutiva das cheias fluviais e à intensificação dos ciclones que fustigam as suas costas, ou seja, as alterações associadas aos desiquilíbrios do clima global”, escreve Don Belt. No entanto, mostrando uma extraordinária capacidade de adptação têm conseguido resistir. Como contou ao repórter da NGM o bangladeshiano Zakir Kibria, “Podemos ser pobres e parecer desorganizados mas não somos vítimas. E quando a situação aperta fazemos o que sempre fizemos, adaptamo-nos e sobrevivemos”.

A reportagem dá alguns exemplos desta incomum capacidade de adaptação. Refere, por exemplo, “as centenas de milhares de pessoas que vivem nas ilhas em perpétua mutação, ou chars”. Estas ilhas são efémeras, obrigando os seus moradores a constantes mudanças de lugar. Para ao autor da reportagem “os moradores dos chars são talvez as pessoas mais adptáveis do planeta”, construindo casas facilmente montáveis e desmontáveis. A situação dos habitantes dos chars é reconhecida pelo Direito do Bangladesh.

Os agricultores do Bangladesh também têm tomado medidas realativamente à subida do nível da água do mar, nomeadamente o desenvolvimento de estripes de arroz mais resistentes ao sal, a construção de diques, a criação de lagostas e camarões nas terras inundadas e onde a sanilidade é demasiado elevada para a produção de arroz. Imitando técnicas ancestrais, que entretanto tinham sido proibidas, alguns agricultores passaram a periodicamente abrir os taludes que protegiam os seus campos permitindo, controladamente, que a água dos rios os inundasse. Em consequência “o campo acumulou toneladas de sedimentos e subiu cerca de um metro de altura” e o rio aprofundou-se, permitindo a pesca. Aumentando os seus rendimentos, “os aldeões foram aclamados como heróis”.


Crianças bangladeshianas entram numa escola flutuante, cuja electricidade é fornecida por painéis solares. Fotografia de Jonas Bendiksen. 


Apesar de serem positivas, estas adaptações não resolvem o problema que o Bangladesh (e, no futuro, outros povos da região) enfrenta. A repprtagem da NGM funciona como um importante alerta para o perigo das alterações climáticas. Samir Ranjan Gayen, que dirige uma ONG local é peremptório: “Devias tirar uma fotografia deste sítio e mostrá-la às pessoas do teu país que andam a conduzir carrões. Diz-lhes que isto é uma antevisão do que acontecerá na Florida dentro de 40 anos”.

terça-feira, 29 de março de 2011

Hora do Planeta bate recordes em 2011

Realizou-se no passado Sábado, dia 26 mais uma edição da Hora do Planeta. Esta iniciativa surgiu em Sidney, no ano de 2007, como forma de alertar os australianos para a importância da luta contra o aquecimento global. A iniciativa – organizada pela WWF – estendeu-se a todo o mundo no ano seguinte.

A participação é muito fácil: basta apagar as luzes durante uma hora, a partir das 20:30 locais. Este gesto, aparentemente sem grande relevo no combate às alterações climáticas, tem como grande objectivo alertar as pessoas para as pequenas atitudes que fazem toda a diferença. Como diz a própria WWF, é necessário “ir para além da Hora”.

A edição deste ano foi recordista no número de países participantes: 134. Também em Portugal se bateram recordes, na medida em que foi a primeira vez que 88 municípios decidiram desligar a iluminação dos seus mais emblemáticos monumentos.

Algumas imagens:

                           O Big Ben, em Londres, antes e durante a Hora do Planeta 2011




                       No Rio de Janeiro, o Cristo Redentor não foi iluminado durante uma hora

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Alterações Climáticas apontadas como causa para extinção em massa


Desta vez, não vai ser uma forte redução no nível das águas do mar, um enorme derramamento de lava na Sibéria, ou a queda de um asteróide gigantesco - só para dar alguns exemplos das mais consensuais causas para três das cinco grandes extinções conhecidas - a levar a um desaparecimento em massa de biodiversidade. No século XXI, poderá ser a acção do Homem a levar à sexta Grande Extinção.

A esta conclusão chegou uma investigação que teve os seus resultados agora publicados num artigo da revista científica Nature, intitulado Consequências das Alterações Climáticas na Árvore da Vida da Europa. O artigo, que na sua elaboração contou com a colaboração de Rui Nabeiro da Universidade de Évora, utilizou quatro modelos diferentes da intensidade das alterações climáticas (tendo em conta quantidades diferentes de emissões de gases com efeito de estufa) e aplicou-os a diversas espécies de mamíferos, aves e plantas. As conclusões apontam para que as alterações climáticas afectem “os ramos da vida de forma uniforme, tornando-os menos densos e farfalhudos com o tempo”, afirmou o investigador português ao jornal Público.

Ainda de acordo com o mesmo estudo, os países europeus mais afectados pela perda de biodiversidade serão os do Sul, à medida que as espécies migram para Norte procurando encontrar condições mais favoráveis para a sua sobrevivência. Mas, ressalva o artigo da Nature, “as perdas não vão ser compensadas pelos ganhos e a árvore da vida enfrenta uma tendência no sentido da homogeneização ao longo do continente”.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Mudanças climáticas são desafio sem precedentes para muitos seres vivos

Muitas espécies animais e vegetais estão em risco de serem as primeiras vítimas do aquecimento global. As estimativas indicam que em 2100 metade das espécies do planeta poderão estar extintas. As alterações climáticas não serão o único responsável mas, sem dúvida, vão assumir um papel de relevo.

Imagem da seca na Amazónia. Fotografia de Rodrigo Baleia 
As florestas da América do Norte também não estão imunes ao perigo. A proliferação, causada pelo aumento da temperatura,  de pragas como os coleópteros - da - madeira tem causado a devastação de vastas áreas florestais. O governo canadiano estima que até 2013 pragas como os coleópteros levarão ao desaparecimento de 80% dos pinheiros da Colômbia Britânica.
O desaparecimento das florestas acarreta um importante efeito perverso: menos áreas florestais representam a perda de um importante sumidouro de Carbono.
Mas se para muitos seres vivos as alterações climáticas apresentam desafios de sobrevivência inultrapassáveis, para outros são uma oportunidade de expansão única.  Entre os mais beneficiados encontram-se os insectos. Não é por acaso que a malária tem vindo a expandir-se para as terras mais elevadas do centro de África, onde até agora não tinha sido identificada. A proliferação do mosquito causada pelo aumento da temperatura pode trazer a malária, e outras doenças típicas dos países quentes, de volta à Europa. Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembra que vectores responsáveis pela transmissão de determinadas doenças como os mosquitos ou os ratos “ficam com condições mais favoráveis de proliferarem e as doenças que estão associadas podem tornar-se mais frequentes”.


Na fauna, os anfíbios e os répteis são os que enfrentam maiores riscos. Este facto resulta de serem animais de sangue frio, que apenas podem viver em locais com características climáticas precisas. Os anfíbios, nomeadamente os sapos, são vistos por muitos especialistas como importantes indicadores ecológicos, ou seja, são utilizados para obter informação sobre o impacto do Homem nos ecossistemas. Não é por acaso que as populações de sapos  têm diminuindo a uma velocidade alarmante. A
National Geographic Brasil fala mesmo de uma “extinção em massa”, devido a “um fungo exótico, a perda de habitat, a poluição e as mudanças no clima”. O sapo - dourado, por exemplo,  que tinha uma frágil população de 1500 exemplares, desapareceu em menos de dois anos pelo ataque de um fungo potencializado pelo aumento das temperaturas durante a noite. Alan Pounds, da Reserva Biológica da Floresta Nublada de Monteverde, onde a população daquele sapo se encontrava, citado pelo livro Rough Guide: Alterações Climáticas de Robert Henson  afirma que “a doença foi a bala que matou os sapos, mas foram as alterações climáticas quem puxou o gatilho”.

As alterações climáticas apresentam enormes desafios para os animais. Muitos deles baseiam-se nas normais alterações da temperatura para se reproduzirem ou migrarem. A rapidez com que as mudanças no clima se têm vindo a verificar impossibilita que os seres vivos a elas se adaptem.
Também as plantas já começam a sentir os efeitos das mudanças no clima. Os fogos florestais, que só no ano passado dizimaram quase 130 mil hectares em Portugal, tornar-se-ão mais frequentes com temperaturas mais elevadas. Xavier Viegas, professor da Universidade de Coimbra, é peremptório: “a incidência dos fogos florestais será muito mais catastrófica nas próximas décadas”.
As florestas tropicais enfrentam períodos de seca que poderão por em causa o frágil equilíbrio em que se sustentam. A amazónia enfrenta actualmente um período de seca intensa, enquanto no estado do Rio de Janeiro enxurradas mataram centenas. Apesar de o Brasil ser um país de contrastes climáticos,  muito provavelmente as alterações climáticas (e a desflorestação que causa menos retenção de humidade no solo, no caso do “pulmão do mundo”) terão contribuído para estas catástrofes.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Queda acentuada no número de notícias sobre as alterações climáticas em ano de temperaturas recorde

Um estudo recente do site Daily Climate indica que em 2010 a quantidade de notícias sobre as alterações climáticas diminuiu drasticamente para níveis similares aos de 2005. Esta notícia surge na mesma altura em que se sabe que o ano passado foi “extremamente quente”.

Em relação aos níveis máximos de 2009, foram publicadas em língua inglesa menos 30% de notícias relacionadas com o aquecimento global, afirmam os autores do estudo.

A publicação de notícias com este tema mantinha-se em níveis relativamente elevados desde o lançamento do documentário Uma Verdade Inconveniente de Al Gore em 2007 e atingiu o seu máximo no final do ano passado durante a Cimeira de Copenhaga.

No topo das publicações encontra-se a agência Reuters com uma média de 4.6 notícias relacionadas com o aquecimento global por dia, seguida do The New York Times, The Guardian e  Associated Press.

Verdadeiramente preocupante é o facto de, no conjunto dos três maiores canais de televisão norte – americanos, o tempo total dedicado à Cimeira de Cancún ter sido apenas a exibição de uma peça de 10 segundos. Ainda o encontro naquela cidade do México estava a começar e o site Democracy Now falava de uma sala de imprensa “estranhamente silenciosa”.

 “É tão pouco, é espantoso” afirma o professor universitário Robert Brulle que analisa os noticiários dos EUA desde 1980. Em comparação, o encontro de Copenhaga deu origem a 32 notícias, num total de 98 minutos de exibição. “Este assunto já não é considerado interessante”, conclui Brulle