Activistas perguntam se há esperança em Cancún.
A oposição firme ao prolongamento do Protocolo de Quioto enquanto este não for melhorado no sentido de abranger um maior número de países (nomeadamente os EUA e a China), por parte do Japão, do Canadá e Rússia também contribuiu para um arrefecimento das expectativas logo nos primeiros dias da cimeira. A questão de Quioto foi símbolo da divisão entre países desenvolvidos e não desenvolvidos ao longo de todo o encontro, porque os últimos consideravam o prolongamento de Quioto essencial uma vez que é o único tratado vinculativo a definir metas de reduções para os países industrializados. No final do encontro foi definido a continuação de Quioto, mas com novas metas de redução de emissões a, possivelmente, serem decididas nas próximas conferências (na África do Sul, no próximo ano, ou no Brasil em 2012).
Em relação à redução de emissões, os países reunidos no México reforçaram a necessidade de manter a subida da temperatura global abaixo dos 2⁰C, um objectivo que implicará cortes nas emissões de gases com efeito de estufa entre os 25 e os 40 por cento até 2020, relativamente a níveis de 1990.
O Acordo de Cancún prevê a criação de um fundo mundial para permitir aos países menos desenvolvidos adaptarem-se às alterações climáticas. No entanto, ainda há muito a esclarecer em relação a este fundo, que deverá reunir 76 mil milhões de euros em 2020. Com o objectivo de esclarecer todos os detalhes da forma como o fundo vai ser financiado e da aplicação do dinheiro, foi criada uma comissão de 40 países em que os estados em desenvolvimento estão em maioria (25, em relação aos 15 industrializados).
Nas últimas horas do encontro, viveram-se momentos de tensão devido à recusa da Bolívia em comprometer-se com um acordo “com falta de ambição”. “É fácil para pessoas numa sala com ar – condicionado continuarem com as políticas de destruição da Terra. Nós precisamos, em vez disso, de nos colocar no lugar das famílias da Bolívia e no resto do mundo que não têm água nem comida e sofrem a miséria e a fome. As pessoas aqui em Cancún não fazem ideia do que é ser uma vítima das alterações climáticas”, afirmou o presidente boliviano Evo Morales. Aquele país da América Latina foi o único a recusar o acordo e anunciou que vai utilizar “todas as instâncias internacionais” para o revogar.
De um modo geral, o acordo foi recebido com optimismo, uma vez que colocou “as negociações do clima novamente nos eixos” depois do fracasso da Cimeira da Copenhaga, afirma a Quercus em comunicado. A organização ambientalista portuguesa reforça ainda a necessidade da União Europeia tomar a dianteira na redução de emissões, aumentando a meta unilateral de redução de emissões até 2020 de 20 para 30 por cento, em relação a níveis de 1990. Condena “um conjunto de países que dificultaram o consenso e avanços bem mais profundos, como os casos do Japão, Canadá, Rússia e Estados Unidos”, em contraste com a Índia e a China que surpreenderam ao aceitar “traçar metas de emissões para o futuro, mesmo que voluntárias”. Em suma, considera positivo o “ambiente de maior transparência, confiança e multilateralismo”.
A ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, que presidiu à comitiva portuguesa em Cancún, considerou que os resultados da cimeira foram “além das expectativas” e anunciou ao jornal Público a criação de um novo Programa Nacional para as Alterações Climáticas.
A Greenpeace valoriza o facto de “pela primeira vez em anos, os governos terem posto de parte algumas grandes diferenças e comprometerem-se a encontrar um acordo climático”. Mas relembram que a conferência de Cancún pode ter salvo “o processo multilateral depois do falhanço de Capenhaga”, mas ”ainda não nos salvou das alterações climáticas”.